quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O Potencial dos Desiguais

 

O Potencial dos Desiguais

 

(¨The Potential of the Unequal” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

A desigualdade faz parte da natureza da humanidade, indivíduos diferentes fazem coisas diferentes ou as mesmas coisas de maneira diferente, evidentemente com resultados diferentes. É o livre arbítrio e seus efeitos. Na origem dessas diferenças estão potenciais físicos e mentais distintos; os humanos não são robôs com todas as suas capacidades pré-selecionadas a uniformes. Isso faz de cada pessoa um complexo de condições, capacidades e limitações próprias e únicas. E isso é imutável.

Somos, então, todos definitiva e imutavelmente desiguais, em causa e efeito. Assim, não cabe a pergunta, “quem é desigual?”  Nem a pergunta, “quem é mais, e quem é menos desigual?” Conclusão: um mundo de iguais é pura utopia e, contrário ao entendimento geral, os mais desiguais situam-se na fina ponta da pirâmide de renda, como unicórnios e outros super-ricos. Como qualquer sociedade que aceita o princípio da propriedade individual gera desigualdades, o desafio daí decorrente passa a ser: “como harmonizar as desigualdades, especialmente com relação aos desiguais de baixa ou nenhuma renda?” Nem comunismo, como ideal filosófico (mesmo anárquico), nem qualquer outra concepção de uniformização socioeconômica.

A desigualdade não inabilita, nem desqualifica. Portanto, a essência para uma harmonização, ou compatibilização consiste numa igualdade de chances desde o princípio da vida, mesmo que essas chances iguais sejam aproveitadas diferentemente pelos beneficiários. É uma responsabilidade sociedade, partindo, ou indiretamente de ações do Estado, ou direta e espontaneamente de seus membros. Porque ‘diretamente de seus membros’?

Vejamos uma sociedade fechada de, digamos, 100 mil pessoas. Dentro das nossas atuais realidades de economia de mercado, podemos presumir uma pirâmide populacional em que ao redor de cinco mil pessoas detém por volta de 50% da riqueza dessa sociedade, outras cerca de 60 mil pessoas são donos de 45% dessa riqueza, e para os restantes aproximadamente 35 mil pessoas ficam com os restantes 5%. Na ausência de qualquer milagre econômico, essa sociedade deverá crescer vegetativamente em função de aprimoramentos tecnológicos e o consequente aumento da produtividade (apenas da população economicamente ativa), mas sempre mantendo a proporcionalidade dessa estrutura – e sempre carregando o ônus da improdutividade de cerca de um terço da sua população com baixa ou nenhuma renda, mas com o custo das necessidades básicas (ensino, saúde, segurança etc.).

Supondo um PIB (Produto Interno Bruto) de I$ 200 milhões (I$ sendo uma moeda imaginária), teríamos um PIB per capita de I$ 2.000,00, o que, visto corretamente, não corresponde à realidade, pois, grosso modo, 35% da população praticamente não produzem. Por conseguinte, o PIB per capita dos 65% da população de fato economicamente ativa, seria de cerca de I$ 3,000,00.

A sempre almejada integração econômica e social dos cerca de um terço praticamente improdutivo da população, obviamente com os devidos investimentos realizados pela sociedade (iniciativa privada ou governo), aumentaria teoricamente e numa perspectiva máxima o PIB de toda a sociedade em I$ 90 milhões (30 mil vezes I$ 3.000,00) à economia. Com isso, o PIB per capita passaria de I$ 2.000,00 para efetivos I$ 3.000,00 – um aumento de 50%, e o PIB total da sociedade hipoyética passaria para I$ 300 milhões.

Não se pretende abordar aqui possíveis dimensões e resultados econômicos de tais investimentos. Ao mesmo tempo lembramos que a situação acima seria a melhor resposta teórica, na prática irrealizável. Outro fator a considerar é o prazo em que o processo de inserção seria possível. Todavia é incontestável que uma inserção dessa natureza não traria benefícios apenas à parte diretamente objetivada da população, mas, e em grau significativo, a toda a sociedade, a todas as camadas da pirâmide econômico-demográfica.

Dessa feita, apesar das desigualdades características da nossa espécie, basta a sociedade se empenhar para que todos, de alguma maneira, participem produtivamente em benefício próprio e com vantagem para todos. Nem todos os seus membros precisam ser gênios empreendedores ou fenômenos digitais, mas muitas capacidades estão certamente hibernando num mundo aparentemente desinteressante para a parte economicamente integrada da sociedade, bastam as chances

 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O PIB da Dona de Casa

O PIB da Dona de Casa

(“The Housewife’s GNP” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

O título surpreende? Certamente não é comum associar a dona de casa com o conceito estritamente econômico do Produto Interno Bruno (PIB) que nada mais é do que a soma dos valores – bens e serviços – gerados e produzidos por uma sociedade em determinado período de tempo. Numa primeira vista parece não haver qualquer relação econômica entre esse conceito e o descascar de batatas ou a extensão da roupa lavada no varal.

Para encontrar uma resposta precisamos regressar na história, e bastante, até os tempos em que a humanidade vivia diretamente da, e na natureza; aos tempos do homem colhedor e caçados. Numa análise mais restrita, o “PIB” da família dessa época limita-se à produção dos alimentos, das roupas e dos utensílios essenciais e armas, eventualmente de material combustível para o aquecimento no inverno, mas todos exclusivamente para o próprio consumo. Nessa constelação da grande família e do grupo ou da sociedade fica claro que todo o trabalho era necessariamente dividido entre homens e mulheres - e as crianças de acordo com sua capacidade física. A mulher, além de cuidar dos filhos e da comida, ajudava na coleta de frutos, ervas e tubérculos, mas também podia participar na caça ou pesca, tarefas em geral do homem. A simbiose era vital.

 Com a fixação na terra, os papeis miudaram lentamente. O uso da força de animais e de ferramentas agrícolas concentraram o trabalho da mulher cada vez mais na criação dos filhos e nas tarefas domésticas. Na verdade, a mulher do campo continuava envolvida com as tarefas rurais, e essa mudança ocorreu mais intensamente nos crescentes ambientes urbanos, com o trabalho do homem convergindo para os ofícios e às funções públicas, onde auferia os recursos financeiros para custear o sustento da família. Com isso, surgiu a figura da dona de casa, e uma eventual empregada trabalhava em troca de cama e comida. Mas o trabalho da mulher, de necessidade indiscutível e gerado por metade da força de trabalho de uma sociedade, era invisível e inavaliável. Desenvolvia-se na sombra do trabalho do homem, esse sim, devidamente reconhecido e remunerado – e tributado.

A contínua e crescente urbanização dos últimos séculos consolidou o papel da mulher como restrito às funções familiares e domésticos – sem expressão econômica. Criar os filhos, prepara o almoço e manter a casa limpa não era entendido como trabalho produtivo. E ninguém perguntava, qual é o produto e o valor econômico de uma vassourada na casa executada gratuitamente? Visto assim, não há resposta, ainda mais que o amor à família e o zelo pelo seu bem-estar não tem preço. Na verdade, a resposta surgiu apenas nas últimas décadas, quando a mulher gradativamente ocupou seu espaço no mercado do trabalho. A dona de casa, mesmo não abandonando todas as funções domésticas, transferiu sua capacidade produtiva para ocupações remuneradas e economicamente tangíveis.

 

À parte os casos onde o status econômico sempre permitia a isenção do trabalho e a contratação de empregado/a(s) doméstico/a(s), essa mudança determinou e ampliou a terceirização dos trabalhos domésticos. A diarista, às vezes, a empregada fixa, ganhou importância e visibilidade, uma essência de trabalho profissional. Mais recentemente ganhou reconhecimento econômico, podendo constituir uma entidade econômica na forma de uma MEI (Microempresa Individual) que prepara o macarrão à bolonhesa, limpa vidraças, troca fraldas, e muito, muito mais, conforme seja o caso. E com isso, revelou-se o valor do pacote desses serviços, pois passaram a ser pagos e legalmente regulamentados. Embora a informalidade nessa área de prestação de serviços continue muito grande, enfim, os trabalhos domésticos tornaram-se mensuráveis e ganharam dimensão econômica – entraram no PIB como geradores de renda.

A percepção e o reconhecimento dessa realidade talvez contribuirão para levar a mulher à igualdade com o homem como merece.

 

 

 

 

  

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Homo Migrans

 

Homo Migrans

(“Homo Migrans” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Migrar é uma caraterística de grande número de espécies da nossa fauna. São migrações periódicas determinadas pelas estações do ano e pela busca de alimento em épocas de escassez, e outras de caráter permanente na forma de expansão de habitat em direção do desconhecido. O homem faz parte desse segundo grupo.

A partir de sua provável origem no centro-leste africano expandiu –se por todo continente africano, para em seguida movimentar-se em direção à Ásia, Europa, Oceania e América (através do Estreito de Berimg). Foi um processo que decorreu de fatos concretos como o aumento de sua população e do crescente domínio de armas e utensílios, mas também por fatores próprios da espécie como fantasia, curiosidade e determinação de alguns indivíduos. Em geral tratava-se da ocupação de espaços adjacentes em ritmo extremamente lento de poucos quilômetros por ano. Outras vezes, o avanço podia ser mais longo em consequência de fenômenos catastróficos como secas, enchentes ou mera escassez de comida. Não sabemos até que ponto existia uma necessidade de simplesmente avançar ou de procurar por algum lugar ideal, um Jardim do Éden.

Em momentos posteriores, as migrações deixaram de consistir em apenas expandir-se sobre terras virgens e assumiram o caráter de conquista de terras já ocupadas pelo homem, seja do homem de Neandertal pelo sapiens, seja de terras eurasianas por povos asiáticos já na Era Cristã. Na história mais recente, novas migrações maciças de conquista deram-se na medida em que novas terras foram colonizadas, como, por exemplo, os Continentes Africano e Americano, subjugando as populações indígenas.

Um aspecto, porém, é onipresente em todas as migrações, sejam elas de mera ocupação de espaços vazios, seja de forma violenta: o risco do perigo do incógnito. Travessias de cadeias de montanhas, de desertos, de rios ou banhados, mas também faunas floras desconhecidos cobravam seu preço em bens e vidas. Quando, então, eram movimentos de conquista de territórios já ocupados pelo homem, a morte estava sempre presente. Mesmo o próprio percurso migratório nesses casos cobrava seus tributos. Milhares de migrantes pereceram antes de chegar a seus destinos em naufrágios, ou epidemias a bordo dos veleiros e navios a vapor nos séculos 18 e 19. E chegando lá, os migrantes tiveram de enfrentar os habitantes originais do novo mundo, ou a cobiça de semelhantes em terras sem lei. É difícil afirmar até onde esses migrantes, aliciados ou não, rinham conhecimento desses perigos e riscos, mas certamente não devem tê-los totalmente ignorados. Mas, e é isso que conta, a grande maioria das pessoas que se empenharam nessa aventura, de uma ou de outra forma, foi bem-sucedida – e serviu de estímulos a novos movimentos. Foram milhões de destinos tomados nas próprias mãos, para o bem e para o mal, e mudados por esperanças inquebrantável e decisões corajosas.

A disposição para migra em busca de uma vida melhor em outras plagas sempre fez, e continua fazendo parte da natureza humana. E nos dias atuais, a fantasia e a imaginação deram lugar à certeza da existência e da localização das terras “onde correm leite e mel”. Diferentemente a tempos passados, hoje não existem mais destinos incertos, mas sim, lugares atraentes. O migrante se coloca a caminho com um destino certo e pré-escolhido, e ao desejo de uma vida melhor soma-se o sonho pelo ambiente de vida como o vê nas imagens de Abu Dhabi, Singapura ou Copenhague.

Em sua essência, os motivos materiais e imateriais que mobilizaram as pessoas dispostas a procurar a prosperidade não mudaram ao longo dos milhares e milhares de anos. Mudaram as rotas e as condições das migrações, Da mesma maneira, o perfil do migrante mantem as mesmas características centrais que o distinguem da pessoa sedentária e conformada com sua sorte. O que aumentou e no mundo da internet está ao alcance de todos é a consciência das enormes diferenças sociais e econômicas entre as sociedades ricas e pobres e das oportunidades daí deduzíveis. Possíveis programas de investimentos e transferências de recursos internacionais para os países de origem das migrações podem eventualmente aliviar pressões migratórias sobre as nações mais ricas e estáveis, mas jamais conseguirão evita-las. Sempre haverá pessoas com iniciativa e determinadas, inconformadas com sua sorte, mas esperançosas, e suficientemente corajosas para não desistir de seus sonhos.

Enquanto atualmente levas expressivas de migrantes tentam forçar as fronteiras da Europa e da América do Norte, desponta no horizonte uma nova razão para que as pessoas se coloquem em movimento em direção a novos destinos, desta vez à procura de refúgio. A concretizarem-se a perspectivas consequentes das mudanças climáticas em curso, como um aquecimento global e uma elevação dos níveis dos mares, certamente locais afastados do litoral por um lado, e em zonas de clima temperado ou austral passarão a ser atraentes. Groenlândia, Alasca, Patagônia, Sibéria e várias outras regiões, por outro, poderão entrar nos radares dos migrantes do futuro. O futuro contará.

 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

O Bômus Demográfico

 

O Bônus Demográfico

(“The Demographic Bonus¨ - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

É difícil avaliar de quais projeções demográficas Otto von Bismarck dispunha quando instituiu o primeiro programa de previdência social no mundo no ano de 1889. De qualquer maneira, três parâmetros principais caracterizavam esse sistema: a idade mínima para aposentadoria era de 70 anos, quando a expectativa de vida ao nascer na época era de cerca de 45 anos, e um mínimo de 30 anos de contribuição, não havia idade diferenciada para a mulher, cujo trabalho limitava-se às tarefas domésticas, e – o mais interessante –, a sobrevida média do aposentado era de aproximadamente um ano e oito meses. Isso significa que, mesmo que a maioria das pessoas não atingisse essa idade, supunha-se que a pessoa estivesse em condições de trabalho até aos 70 anos. Considerando que em termos demográficos uma sociedade é economicamente saudável quando mais da metade da população se encontra em idade economicamente produtiva, era, sem dúvida, um sistema financeiramente sólido, mesmo na perspectiva de futuras mudanças demográficas agravantes.

            Essa situação hoje é denominada de bônus demográfico. O Brasil nunca precisou preocupar-se com tal bônus enquanto vivenciava um crescimento populacional acentuado, ou seja, sua proporção de pessoas em idade de trabalhar (por definição, entre 15 e 64 anos) é maior que aquela da população dependente, crianças e idosos. Nas últimas décadas, porém, essa proporção passou a ser desfavorável com o rápido aumento da expectativa de vida para perto de 74 anos – um aumento de mais de 30 anos desse 1940 (45,5 anos). Por outro lado, desde a virada do século, a taxa de fertilidade da mulher brasileira situa-se abaixo da taxa de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. Num primeiro instante, essa redução subtraindo mais de meio milhão de nascimentos em 20 anos, tem reflexo positivo sobre o bônus demográfico, diminuindo a parcela de dependentes, entretanto, neste instante já resulta daí um ingresso menor de pessoas na vida produtiva, com significativo efeito negativo sobre esse bônus.

            As curvas de evolução da expectativa de vida de vários países expectativas elevadas indicam uma estagnação de tal avanço em torno dos 85 anos. Por outro lado, uma projeção semelhante na base da pirâmide etária permite concluir que a taxa de fertilidade se estabilize entre 1,6 e 1,5 filhos por mulher. Assim teremos um aumento cada vês mais lento da população idosa até chegar à estagnação, mas, por outro lado, um constante déficit de nascimentos e posterior força de trabalho – salvo uma radical mudança coletiva na constituição familiar, até aqui sem sinais de ocorrer. Atualmente, a Alemanha com 82 milhões de habitantes experimenta exatamente essa situação com uma expectativa de vida praticamente estável de cerca de 85 anos, e um déficit anual em torno de 150 mil nascimentos. 

            Há, no entanto, um aspecto que aparentemente não mereceu a devida atenção. Ao observar um expressivo aumento na expectativa de vida e preciso levar em consideração que não se trata de apenas de um alongamento da vida do idoso, mas que essa extensão já começa na meia idade, ou seja, é preciso deslocar a idade com a qual teoricamente se inicia a velhice. De fato, não é preciso muito esforço para notas que são raros os casos em que a pessoa, mesmo já aposentada, efetivamente passe o dia sentado no sofá em frente à TV. Embora passando da idade que os declare oficialmente de idoso, muitos, senão a maioria, encontram-se em algum tipo de atividade remunerada, ou não, o que coloca a idade limite entre produtiva e inativa arbitrariamente estabelecida claramente em dúvida. Prova disso: muitas pessoas recusam-se a fazer uso dos benefícios que a lei garante aos idoso alegando ¨ainda não sou velho¨.

            Dessa mentira é bem possível que a mera definição elevatória, ou atemporal, estabeleça um quadro de perda do bônus demográfico sem que a real situação demográfica justifique. Cabe um exame apurado e uma provável redefinição. Um reajuste nos parâmetros etários, na verdade, nada muda na realidade demográfica, mas eliminaria um lastro psicológico inútil. Todavia, parâmetros falsos levam a leituras enganosas e a decisões equivocadas.       

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Energia numa Curiosa Dimensão

 

Energia Numa Curiosa Dimensão

(“Energie in a Different Dimension” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Definindo de forma simples, energia é a capacidade de fazer um trabalho, gerar calor ou luz. Portanto, ela é necessária quando algo for colocado em movimento, acelerado, levantado, aquecido ou iluminado. Assim, a energia é vital e indispensável para todos os processos naturais e sua fonte, que garante toda a vida sobre a Terra, o Sol. Por conseguinte, foi a única fonte de calor e luz do homem por muitas centenas de milênios. Então ele aprendeu a fazer fogo. Em seguida e em lento progresso, a humanidade descobriu como aproveitar a força dos animais domesticados, da água e dos ventos para complementar sua própria energia e sua produtividade. Paralelamente soube criar e desenvolver mecanismos que tornassem o uso da energia mais racional, da simples alavanca a engenhosos sistemas de roldanas.

Uma nova era começou para a humanidade com os primeiros inventos de geração de energia a partir do uso de recursos baseados em leis físicas e químicas, das primeiras máquinas a vapor às reações nucleares, passando por usinas de energia elétrica e motores de combustão interna. Uma consequência foi o surgimento quase imediata de uma relação mútua e permanente entre disponibilidade (em geral deficitária) e demanda. Cada cidadão adicional, cada luxo a mais e cada avanço tecnológico exige mais e novos recursos energéticos.

E quem é o consumidor final de toda a energia gerada pela mão do homem? Você conhece a demanda e o consumo dessa energia?

O próprio homem é sempre o consumir final, direta ou indiretamente de toda a energia gerada. No caso brasileiro, ele é o consumidor final de uma geração total de energia elétrica instalada de mais de 180 Gigawatts (GW), isso são 180.000.000.000 W (180 x 109 W). É a energia que garante a luz noturna, o funcionamento de seu celular e que toca as indústrias que fabricam suas roupas, seu fogão a gás e seu automóvel. Se dividirmos esse potencial energético pela população do país (210 milhões de habitantes) encontramos um valor de quase 860 W por pessoa.

Numa outra dimensão, cada pessoa, em atividade normal, gera e consome aproximadamente 100 W de potência, ou seja, o suficiente para manter acesa uma lâmpada de igual wattagem. Consequentemente, conclui-se que cada pessoa consome, além da própria, a energia complementar correspondente àquela de quase nove outras pessoas, que estariam escondidos na nossa geladeira, na máquina de lavar, na TV, no aspirador, no celular, enfim, em todos os utensílios que fazem parte de nossa vida cotidiana moderna.

Mas não é só. Até aqui estamos falando de apenas 70% da capacidade energética atualmente instalada e disponível. Os outros 30% provém de origem fóssil, principalmente do petróleo e do carvão consumidos pelas siderurgias, indústrias e pelos sistemas de transporte. Isso significa que o consumo individual desse recurso energético outras três pessoas se encontram debaixo do capô do nosso carro ou na turbina do avião que nos leva à Europa. E aqui há a agravante das consequências ambientais causadas por tais combustíveis.

Na soma final, portanto, cada um de nós demanda a energia que equivale àquela de outras 12 pessoas, como se tivéssemos, cada um, 12 escravos trabalhando para nós durante 24 horas em 365 dias por ano. E nós, brasileiros, não somos os maiores consumidores energéticos deste nosso planeta.

Essa é uma realidade dificilmente mutável, pois cada novidade para aumentar nosso conforto acentuará essa situação. Mas é bom ter consciência desse cenário e sentir um certo alívio na medida em que as fontes energéticas se tornem mais sustentáveis.       

 

sábado, 27 de novembro de 2021

O Futuro Começou Ontem

 

O Futuro Começou Ontem

(“Future Began Yesterday” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Há décadas, o Brasil está experimentado uma silenciosa, mas significativa mudança. Depois de um contínuo crescimento populacional ao longo de cinco séculos, essa evolução está sofrendo uma ruptura. Dede a década de 1950 obviera-se uma queda contínua na taxa de fertilidade da mulher brasileira, queda essa, que por volta do ano 2000 atinge e cai abaixo da marca de mera reposição da população (2,1 filhos por mulher. A partir do desse momento inicia-se um processo de diminuição dos nascimentos, com oscilações, mas também contínua. Em comparação com os 3,3 milhões de nascimentos em 1999, em 2020 foram registrados apenas 2,7 milhões de nascimentos. Teríamos, a partir do mesmo momento, um crescimento negativo da população se não houvesse um concomitante aumento da expectativa de vida na ponta da pirâmide etária.

Até esse momento, fora a queda nas matrículas, principalmente no ensino fundamental, e uma possível redução na venda de chupetas e outros artigos de bebê, não se observaram consequências sensíveis desse fenômeno. No entanto, devemos esperar para breve os primeiros sinais dessa mudança. Nos últimos 20 anos tivemos uma redução de mais de meio milhão de nascimentos. Isso significa que a partir de agora devemos contar com esse mesmo meio milhão a menos de pessoas ingressando na força de trabalho do país, ou, então, corresponde à perda da força de trabalho de uma cidade de cerca de 50 mil habitantes - por ano. E esse processo deverá tornar-se um fenômeno constante. Sabendo que o idoso com a vida prolongada não gera riqueza, mas apenas consome reservas feitas compulsoriamente, ou não, durante sua vida produtiva, uma simples redução na renovação da população economicamente produtiva significa menos produção, menos consumo, menos investimento, ou seja, queda no PIB – Produto Interno Bruto. (Mesmo assim, o PIB per capita pode aumentar devido a outros fatores.) Neste ponto, é preciso lembrar que outros países (p.ex. Japão, Alemanha, Rússia) estão em situações semelhantes, porém, mesmo assim apresentem índices de crescimento positivo, mesmo moderados, do PIB. Qual é a fórmula? Desenvolvimento tecnológico e aumento da produtividade, priorizando a qualidade, em prejuízo da quantidade.

E o Brasil carece de ambos. Temos ilhas de desenvolvimento tecnológico de excelência como Embaer, Embrapa, entre poucas outras, mas, de uma maneira geral, somos obrigados a nos servir do mercado externo com as implicações positivas e negativas (maiores) conhecidas. Já a produtividade, além de depender diretamente do grau de ‘conhecimento faber’ está diretamente vinculada à disponibilidade energética que, aliás, é hoje um problema multifocal e global.  

O mundo moderno tem mostrado que existem outras vias. Alguns países asiáticos, mas não só, mostram o caminho, as fórmulas, as ferramentas – e os resultados. Mas na raiz há uma verdade curta e clara: pais tecnologicamente desenvolvido é consequência, na raiz está um país com consciência coletiva de que seu maior bem é o conhecimento – e que atua de acordo com essa convicção. No caso brasileiro, é urgente que aprendamos a ensinar e a aprender nos moldes que o mundo moderno exige de todos aqueles que queiram fazer parte dele. Do contrário, poderemos abolir o sinal de ‘+’ das nossas calculadoras.  

O aumento da expectativa de vida tem limite. Então se evidenciará que efetivamente seremos quantitativamente menos, mas podemos ser qualitativamente muito mais competentes, produtivos, prósperos – e felizes.

 

 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Auxílio ou Ensino?

 

Auxílio ou Ensino?

(“Aid or Education?” - – This text is written in a way to ease electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

No mundo do conhecimento, quem não tem estudo não tem vez. Isso soa cruel, mas é a realidade. Não existirá mais chance ocupacional para o auxiliar de construção civil, o cobrador de ônibus ou o frentista de posto de abastecimento num futuro mais ou menos próximo. O próprio comerciário sem qualificação específica encontrará cada vez menos espaço para o trabalho. Até a perspectiva de garantia de trabalho para o trabalhador industrial apenas preparado para a função pela própria empresa é cada vez menor. Tirando do quadro os efeitos transitórios da pandemia de covid-19, isso evidencia-se claramente ao examinar o perfil do atual desempregado.

E mesmo os ‘afortunados’ que conseguem ganhar seu pão com trabalhos que dispensam qualificações, além de uma constante incerteza relativa ao futuro, jamais sairão das amarras de uma maior ou menos pobreza. A simples alfabetização e as quatro operações da matemática são necessárias, mas não bastam, apenas são um primeiro passo na formação de uma base mínima para a construção do conhecimento, seja qual seu campo. Especialmente o ensino básico tradicional, essencialmente teórico e abstrato, como se encontra em prática o Brasil, em nada, ou muito pouco, serve para o preparo do profissional ‘século 21’.

Essa situação praticamente impede uma migração social. Raras são as pessoas que conseguem romper os laços que as prendem ao seu status quo socioeconômico. Para esse salto através da aquisição do conhecimento ter êxito, sempre exigir-se-ão grandes sacrifícios, seja da pessoa, seja da família, seja da sociedade.

Tal salto, definitivamente, não se pode esperar de programas de auxílio financeiro para a população de baixos níveis de renda. (Não está se falando aqui de Programas de Renda Básica Universal, mas daqueles do tipo Bolsa Família e similares.). Por mais que esses recursos possam atenuar a situação financeira, boa parte desses recursos não resiste aos apelos de uma economia de consumo, nem às arapucas de crédito. Assim, mesmo conseguindo fugir de tais tentações, tais programas são incapazes de gerar riquezas que permitam uma ascensão social. Mas, obviamente, tornam-se politicamente simpáticos.

Diante disso impõe-se a pergunta: aumentar o poder de compra da parte mais carente da sociedade, ou investir na chance profissional de quem não dispõe de recursos para tal. Um modelo bem-sucedido existe para ser seguido e ampliado: o Sistema S (SENAI, SENAC etc,) com 1,2 milhão de matrículas. Igualmente existe um mercado de trabalho preparado para acolher mão de obra qualificada, em especial nas áreas de tecnologia.

A educação tem seu tempo necessário, mas limitado na vida da pessoa, um auxílio financeiro estende-se por toda a vida. Ademais, esse tipo de subvenção não consegue tirar o beneficiário da pobreza e, ainda pior, lega sua condição de indigência para as próximas gerações – possivelmente ainda mais numerosas (as favelas são prova cabal dessa realidade). Esse tipo de auxílio, sem num efetivo complemento educacional que consiga romper a estagnação social e econômica, é quase uma condenação à paupérie eterna.

A educação é um investimento sem risco e com retorno garantido durante toda a vida produtiva do educando. Além disso e pela sua própria natureza, o conhecimento não tem perdas, não se deteriora – e proporciona um capital de liquidez garantida e um futuro próspero para aqueles que o adquiriram. E, pelo seu fator multiplicador, beneficia toda a sociedade.

A questão, então, é: atenuar, mas perpetuar a pobreza, ou promover a ascensão social através do investimento na educação.  

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Groenlândia ou Patagônia

 

Groenlândia ou Patagônia?

“Greenland or Patagonia?” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translations)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Excluindo alguns negacionistas dos problemas climáticos em curso e futuros, seja qual for a razão para tal postura, observa-se uma clara e crescente apreensão com a evolução das mudanças climáticas entre a população. Especialmente pessoas e populações diretamente afetadas pelos efeitos de caprichos meteorológicos tem toda razão para convencer-se de que algo está mudando com o tempo.

Enchentes, furacões, secas, temperatura extremas e anormalidades climáticas de toda ordem e suas consequências frequentam as manchetes das mídias. Como não podia ser diferente, cada calamidade, cada desastre climático clama pela identificação de suas causas e seus responsáveis. Uma resposta perfeitamente válida alega que sempre houve mudanças climáticas no nosso planeta pelas mais diversas causas. Tanto externas ao nosso planeta, especialmente provenientes do sol com ocasionais proeminências (jatos de gases e vapores metálicos) e eventuais mudanças orbitais, quanto originárias da própria Terra influenciaram as condições meteorológicas na sua superfície. Eras glaciais e outras de extremo calor fazem parte da longa história do mundo e deixaram suas marcas.

Algumas causas são razoavelmente conhecidas, de simples mudanças da espessura da camada de ozônio a processos menos evidentes ligados ao envelhecimento do nosso planeta, outras nem tanto, embora mais imediatas. Vale aqui mencionar o fundo do mar (a parte menos conhecida da Terra) que, entre outros fenômenos, abriga muitos milhares de vulcões, alguns adormecidos, outros em erupção constantes, e ainda aqueles em atividade intermitente – os números exatos não são conhecidos. Os efeitos de aumento da temperatura das águas marítimas em constante circulação pelos oceanos e ao redor da Terra parecem óbvios. Os fenômenos causadores são múltiplos e suas ações, isoladas ou combinadas são igualmente multiformes – entre imprevisíveis e já perceptíveis, como as atuais condições térmicas que hoje já permitem o plantio de vinhedos na Noruega.

Mesmo com todos esses fatos e condições próprios do planeta, independentes da presença do homem, a humanidade moderna tem comprovadamente contribuído para o atual quadro de mudanças climáticas. Em que proporção com o resto das circunstâncias? Ninguém sabe. Simplesmente não há como determinar em que grau os efeitos nocivos produzidos pelo homem participam no total de fatores determinantes das mudanças em curso. Mas isso não justifica uma isenção de responsabilidade, um ”tirar o corpo fora”. Por menor que seja a emissão de CO2 ou metano liberados pela ação humana, por mais insignificante pareça a agressão à natureza pela nossa civilização em comparação com os processos naturais, trata-se de uma parcela de participação no processo de mudanças em curso. Somos nós os responsáveis pelas estruturas de produção e consumo de energia e de transformação física e química de materiais construídas ao redor do mundo. Somos nós os responsáveis pelo fato de que mais de 60% dos mamíferos de porte no mundo são animais de criação (apenas 4% vive livre na natureza, e 36% - a humanidade). E somos os responsáveis coletiva, más também individualmente. Não podemos nos eximir como pessoas, culpando a humanidade como um todo – ela se compõe de 7,3 bilhões de pessoas, cada uma um ser distinto com seus direitos e seus deveres. A omissão alheia, do outro, cidadão ou coletividade, não justifica a própria indiferença.

É preciso ter consciência que nossa contribuição, mesmo involuntária, na evolução dos problemas ambientais e climáticos tem história, tem um passado bastante longo e, consequentemente, quaisquer posturas corretivas não trarão resultados imediatas – e talvez não influam na medida esperada num conjunto de fatores fora do controle da humanidade. Como medida individual, talvez sejam gotas que o beija-flor carrega para apagar o fogo na mata, mas em escala coletiva, possivelmente retardaremos a necessidade de nossa migração para terras como a Groenlândia, o Alasca, as regiões polares da Rússia ou a Patagônia.  

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Mobilidade em Terceira Dimensão - Parte 2

 

Mobilidade em Terceira Dimensão – Parte 2

(“Third Dimension Mobility – Part 2“ - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translations)

 

Klaus H; G. Rehfeldt

 

“Deslize relaxado lá em cima, deixe a agitação da cidade abaixo de você, aproveite a vista e vá para o seu destino com calma” – os teleféricos tornam isso possível. Eles não agridem o meio ambiente, são baratos, rapidamente implementáveis e confiáveis. Eles podem fechar lacunas no transporte público, substituir outros serviços dessa natureza, conectando áreas urbanas entre si e com outras suburbanas.

Tendo isso em mente, é oportuno analisar se, como e onde um sistema teleférico poderia ser útil e benéfico como opção eficiente de transporte público em Blumenau, fazendo realmente a diferença. Com sua configuração geográfica, o centro espremido entre um rio e um conjunto de montanhas e de onde os bairros avançam vales adentro, esse formato de estrela distancia as periferias – com poucas vias alternativas – mais do que seria o caso de uma cidade circular. Isso contribui para notórios problemas no transporte público. Outro aspecto a considerar nesse contexto é a característica e a tradição de cidade turística, um fato que exige, ou pelo menos recomenda, infraestrutura diferenciada 

Esse conjunto de fatores praticamente imutáveis justifica a busca por alternativas e aperfeiçoamentos no transporte coletivo, e uma delas seria um sistema de teleféricos urbanos, tirando parte do transporte público da rua para um nível aéreo. Exatamente a configuração geográfica particular oferece opções extremamente favoráveis para a implementação de um sistema de teleféricos, Dois dos principais bairros da cidade estendem-se ao longo de dois ribeirões, Garcia e Velha, que oferecem condições especialmente favoráveis para o transporte elevado, uma vez que os próprios leitos podem servir de curso para as linhas, não oferecendo obstáculos físicos, e ao mesmo tempo disponibilizando áreas sem valor comercial para as torres de sustentação. Cabe esclarecer, que os sistemas atuais permitem desvios de até 30 graus em seus percursos. E não há motivo para um possível desconforto por parte de moradores próximos de ver gondolas passando perto de sua janela com olhares invadindo sua privacidade. Experiências adquiridas com Uma ou duas primeiras linhas poderão validar novos trechos.

No caso do bairro Garcia tratar-se-ia de uma opção quase exclusivamente destinada ao transporte cotidiano de passageiros locais e que poderia facilmente chegar até o atual terminal de ônibus do bairro. Já no bairro da Velha, soma-se ao usuário local o turista, uma vez que essa linha, passando pelo Terminal Proeb poderia estender-se até a Vila Germânica na configuração de atração turística. E ainda haveria a possibilidade da convergência de ambos os sistemas.

Diante das características dos trechos em foco é bom lembrar que não exista uma única opção na solução, mas inúmeras variáveis tecnológicas, sejam elas construtivas, sejam operacionais, ou sejam econômicas, que precisam ser ponderadas e definidas. As opções são muitas. Mas também deve se considerar que o cidadão de amanhã, que deverá ser tecnológica e ambientalmente mais sintonizado com as necessidades e limitações de uma vida sustentável, ainda não fez sua opção sobre como, onde e em que condições e ambientes deseja viver. Um crescente abandono da obsessão de possuir um automóvel entre os jovens é apenas um sinal muito claro. Tudo indica que eficiência e densidade digitais ganham prioridade sobre proximidade e convivência físicas. Com certeza, sustentabilidade e interferência mínima no equilíbrio ambiental estarão indispensavelmente presentes em sua compreensão de valores e em quaisquer escolhas ou definições.

No mínimo, o assunto merece um estudo mais detalhado e aprofundado em suas várias facetas.    

 

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Mobilidade em Terceira Dimensão - Parte 1

 

Mobilidade em Terceira Dimensão – Parte 1

(“Third Dimension Mobility – Part 1“ - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translations)

 

Klaus H; G. Rehfeldt

 

Flutuando, suavemente e sem ruído. Às vezes um leve balanço. Mesmo assim, chegando onde quero, sem congestionamento, sem stress e na hora certa. E que vista! Mobilidade? Sim, e mobilidade urbana!

Isso não é um passeio de balão na Capadócia, nem um sonho de transporte num futuro imaginário e longínquo. É realidade cada vez mais presente no ambiente citadino nos mais diversos países e chama-se: teleférico urbano, horizontal ou não. Teleféricos existem em muitos lugares ao redor do mundo, mas, em geral, são conhecidos na sua modalidade de transporte turístico em lugares montanhosos. Porém, estão começando a entrar em outra área de transporte público, a mobilidade urbana.

É o teleférico urbano como um meio alternativo ou complementar de transporte público. Em comparação com soluções baseadas em trilhos, a construção de um teleférico é geralmente mais barata e requer menor em tempo de construção, mas com capacidade de transporte compatível. Além disso, destaca-se como um meio de transporte rápido, silencioso, ambientalmente benigno e extremamente seguro.

Os teleféricos têm uma vantagem decisiva: lidam com condições topográficas difíceis. Em La Paz, na Bolívia, por exemplo, a solução para seu problema do tráfego estava na terceira dimensão – ou seja, a construção de uma rede de teleféricos urbanos. A adoção do sistema é um sucesso completo, já consiste em sete linhas, muito frequentadas (o preço da passagem é, convertido, de cerca de R$ 2,00), e que conectam os vários distritos e bairros da cidade. Espera-se que a rede cresça ainda mais até um comprimento total de cerca de 30 km das 7 linhas previstas.

Outras cidades com sistemas de teleférico urbano impactado são, por exemplo, a Cidade do México, Hong Kong, Toulouse e Anacara, entre muitas outras. Todas elas com as mais diversas particularidades urbanas, geográficas e econômicas. O teleférico de Ancara, por exemplo, foi na época de sua construção, 2014, o teleférico mais longo da Eurásia, tendo na época os custos operacionais 80% mais baixos que os de um metro ou trem urbano, além dos custos notoriamente menores da implementação com uma capacidade de transportar 2.400 passageiros por hora. O trajeto de mais de mais de 3 km é feito em cerca de 10 minutos.  

Quais são as vantagens desse meio de transporte no conjunto da mobilidade urbana? Comparado com outros sistemas, os teleféricos não agridem o meio ambiente, pois são acionados por energia elétrica (eventualmente de fonte renovável) e assim não emitem CO2, além de não produzirem ruído. Isso torna sua operação extremamente econômica e perfeitamente compatível com, e integrável a outros sistemas. Seu funcionamento contínuo não gera esperas e aglomerações de passageiros, além de proporcionar uma viagem extremamente agradável. Ao mesmo tempo não existe a possibilidade de congestionamentos ou batidas de trânsito, nem atropelamentos – teleféricos são, com grande distância, os meios mais seguros de transporte coletivo com apenas uma morte por 1,7 milhão de passageiros transportados.

A implementação do sistema permite a pré-fabricação em grande escala ao lado de uma ocupação mínima de solo, restringindo-se às áreas necessárias para as estações e as torres de sustentação. Além da fácil superação de obstáculos topo- e geográficos, o custo da obra é incomparavelmente mais favorável (US$ 19 milhões por km na cidade do México) do que de outras vias no mesmo ambiente urbano. Somente a implantação de uma linha de ônibus em via já existente é mais barata, no entanto – diferentemente do sistema teleférico altamente automatizado –, tem um custo operacional mais elevado e todos os problemas atuais do transporte terrestre urbano. Os custos energéticos são baixos: como as relações de massa e resistência do vento se compensam nas respectivas direções de deslocamento, os sistemas requerem somente a energia para a superação do atrito da natureza do sistema. Com isso, teleféricos mostram ser os meios de transporte motorizado com a maior eficiência energética. Ventos com velocidades de até 80 km/h não impedem o funcionamento.

Embora um teleférico da cidade não possa resolver todos os problemas de trânsito, sob determinadas circunstâncias faz muito sentido deslocar o fluxo de tráfego do solo para o ar. No entanto, o pré-requisito para um novo sistema de transporte combinado é que o teleférico seja aceito pela população e que o projeto seja elaborado e aplicado na presença de vontade política.

(Segue Parte 2)

 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Que Tal Madeira?

 

Que Tal Madeira?

(„What About Wood?“ - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translations)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Desde os primórdios da humanidade, a madeira faz parte do processo civilizatório. Ao lado de armas, ferramentas e utensílios, de veículos e embarcações, praticamente todas as culturas serviam-se da madeira como elemento principal ou complementar na construção de seus abrigos e outras edificações. De simples cabanas a catedrais, a madeira, com suas qualidades e suas dimensões, determinou as possibilidades e as limitações da construção civil durante milênios em combinação, ou não, com a pedra e a argila.

A invenção do cimento em 1824 na Inglaterra (mais precisamente na península de Portland, que lhe deu o nome de cimento Portland) e a utilização do aço na construção civil produziram uma revolução que se traduziu em obras de toda natureza e finalidade, e cada vez mais audaciosas. Hoje esses materiais fazem parte do nosso cotidiano, passando a madeira para um papel de quase insignificância.

Porém, embora um tanto esquecidas, continuam valendo as qualidades da madeira, e com isso, sua serventia para a construção civil. Entre essas cabem citar sua característica de material sustentável (madeiras de qualidade levam de 40 a 80 anos para atingir sua maturidade, dependendo de sua espécie e localização geográfica), sua prestabilidade para processos de pré-fabricação, a capacidade de sustentar um múltiplo de seu próprio peso, sua combustibilidade mais previsível e controlável, e o reaproveitamento seus resíduos, além de outras,

Em tempos de consciência ecológica e necessidade de sustentabilidade, tudo isso está alimentando reconsiderações sobre seu uso na construção civil. Num primeiro instante, isso sugere pensar em casas ou outras edificações de madeira de altura limitada. Mais difícil é imaginar uma construção de, por exemplo, 24 andares e 84 metros da altura – como o prédio HoHo (Holz-Hochhaus) localizado em Viena Áustria. Esta construção possui apenas um nucleão de concreto, ao redor do qual construíram-se um hotel e escritórios com um total de 19.500 m2, em grande parte utilizando-se a pré-fabricação longe do local de construção. E não é o único. Sem chamar muita atenção, surgiram, desde 2008 mais de 20 prédios de madeira com mais de oito andares na Europa, no Canadá e na Austrália. Novas técnicas, como, por exemplo, o uso de tábuas e pranchões de aglomerado multicamadas cruzadas impulsionaram tais arrojos.

Além das vantagens já mencionadas, a maior leveza do material necessita de fundações menor dimensionadas, e de menor custo. Mas a maior vantagem está na própria madeira. Qualquer árvore tem seu ciclo de vida, e sua transformação em material de construção antes de sua morte natural praticamente não interfere no equilíbrio ambiental, além de postergar a liberação de CO2 por ocasião de sua decomposição. Outras vantagens são menor tempo e menores custos de construção, menor peso, adequado mesmo em condições difíceis do solo, matéria prima de baixo custo energético, entre outros.

Os custos materiais mais elevados são indiscutíveis. A qualidade tem seu preço, que cada vez mais construtores estão dispostos a pagar. No entanto, se você olhar para todas as fases de planejamento, construção e residencial, os custos de investimento se justificam rapidamente. Não é preciso dizer que a madeira não precisa ser usada dogmaticamente como o único material de construção. Grande sucesso poderá ser alcançado, por exemplo, com um método de construção híbrido no qual, ao lado da madeira, outros materiais de construção são selecionados de acordo com sua respectiva adequação,

Somos um país sob todos os aspectos favorecidos para o cultivo da madeira e seu uso mais amplo possível, de maneira que, num ambiente de constante renovação tecnológica, somos obrigados a realizar revisões permanentes no espectro da utilização racional de uma das nossas maiores riquezas - sustentáveis.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Me Enganem Que Eu Gosto.

 

Me Enganem Que Eu Gosto.

(“Fool me, I like it.” – This text is written in a way to ease comprehensive electronic translations)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

O dito expresso no título deste texto pode parecer absurdo, mas tudo faz crer que há pessoas que não tem problema em adotar para si tal postura – e sentir-se bem. Como explicar isso? Obviamente é cômodo e confortável não precisar dispender qualquer esforço no sentido de averiguar a veracidade ou autenticidade de uma informação ou notícia, especialmente quando a abordagem do assunto é do agrado da pessoa. Contudo, os sonhos e os desejos das pessoas nem sempre coincidem ou combinam com o mundo real.

Tudo isso não é novidade. E também não é novidade que em determinados momentos tem havido interesses específicos em aproveitar-se política ou economicamente dessa, digamos, leviandade ou imprevidência. Desde quando surgiram as mídias de massa, como rádio e televisão, esses meios foram usados, de tempo em tempo e nas ocasiões próprias, na tentativa de influenciar pessoas, na qualidade de eleitores ou de consumidores – seja esmerando imagens ou desconstruindo adversários políticos, seja promovendo produtos ou desmentindo advertências ou alertas. Porém, enquanto tais mídias tinham quase exclusivamente formato empresarial, verificações sobre fontes e autenticidades eram relativamente fáceis, além de permitir um possível monitoramento mútuo.

Uma mudança radical desse quadro surgiu com o aparecimento das mídias sociais. De repente, milhões de pessoas conseguem comunicar-se com outros milhões, tudo em tempo real, e tudo praticamente livre de qualquer controle. De notícias de interesse geral e de toda natureza, de cantos de pássaros a fenômenos cósmicos, de receitas de bolo a considerações filosóficas, tudo cabe nas redes sociais. Mas também cabem mentiras, distorções, difamações, ódios e conspirações. E os respectivos canais não em mostrado muito empenho em disciplinas quaisquer abusos. Apenas recentemente, a crescente pressão sofrida pelos servidores dessa mídia resultou em algumas medidas fiscalizadoras.

 Todavia, nenhuma arbitrariedade, nenhuma maldade, nenhum abuso é eterno. A própria sociedade começa a clamar por, e a construir seus mecanismos de defesa. Por um lado, como faz o comprador de um par de sapatos, o usuário rejeita o que não lhe agrada, por outro, formam-se entidades com o fim específico de identificar e denunciar afrontas, inverdades, difamações a agressões e outras mais infâmias e maldades. Resultaram daí alguns sites dedicados a esse objetivo, facilmente encontráveis:

- fato e fake,

- boato.org,

- Lupa,

- AOS FATOS,

- UOL confere,

- Estadão Verifica.

O propósito é simples: oferecer ao cidadão comum canais para a verificação da veracidade de postagens que lhe pareçam duvidosas. É um assunto seríssimo, mas chega a ser divertido ver tantos absurdos sendo jogados no público. Em geral, os mencionados sites reagem muito rapidamente, muitas vezes no mesmo dia. Dessa maneira, a autoproteção contra fakes de qualquer natureza sugere aguardar as reações devidas, ou sua ausência, nesses sites antes de aceitar uma informação, especialmente quando sensacional ou bombástica, como verdadeira e confiável. Em outras palavras, cada um faz sua escolha. Ou se previne, ou se torna vítima de informações falsas, intencionais ou não, na medida em que ignora os recursos de que dispõe – torna-se inocente útil, pedindo “me enganem que eu gosto!”      

                        

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Câmbio x Paridade de Poder de Compra

 

Câmbio x Paridade de Poder de Compra

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Quem já viajou ao exterior não escapou de defrontar-se em algum momento com a figura do câmbio, ou a troca de moedas nacionais, ou supranacionais. A razão para tal é simples: cada país tem sua moeda e diversos fatores concretos das diferentes estruturas econômicas e sociais determinam que essas moedas tenham valores distintos de nação para nação. Daí a necessidade de uma troca de moedas, quando o destino são outros países, ou houver operações comerciais entre dois países.

 Ocorre, que não apenas aspectos conjunturais reais determinam as taxas entre moedas distintas nessas trocas. Há componentes importantes no jogo, tais como especulações e a oferta e procura – nem sempre com efeitos positivos. Vejamos um exemplo hipotético. Especialmente a partir da segunda guerra mundial, em virtude da estabilidade, solidez e do tamanho da economia norte-americana, o dólar tornou-se moeda de referência em praticamente todo mundo. Todavia, seria ingênuo pensar que tal situação está garantida ad infinitum. Sem avaliar possibilidades mais ou menos prováveis, se em algum momento do futuro outra economia revelar as mesmas caraterísticas, combinadas com um potencial econômico de ponta, essa referência monetária pode facilmente migrar para outra nação, ou comunidade de nações. A consequência para o dólar americano seria catastrófica, pois, estima-se que cerca de 60% dos dólares em circulação encontram-se fora dos Estados Unidos. Esse montante deixaria de ter procura no mercado mundial e, além de assim perder seu valor no mercado mundial, retornariam cedo ou tarde ao país de origem, causando uma inflação dramática – com óbvios reflexos em todo o mundo.

Portanto, há dois tipos de flutuação nas taxas de câmbio: uma decorrente de mudanças conjunturais econômicas (p.ex., crescimento ou redução do PIB) que, em geral, se processam lentamente, e outra, consequente de fatores especulativos (p. ex., de causas políticos ou sociais), combinados com variações na oferta e procura de outra natureza (p.ex., turismo).

Pouco conhecido, por outro lado, é a chamada Paridade de Poder de Compra (PPC). Ela consiste basicamente numa comparação de poder aquisitivo de duas moedas distintas. Por exemplo, se um determinado produto custa num país 100 Unidades Monetárias Locais (UML) e o mesmo produto vale num outro 240 UML, a PPC é de 2,4 (é a PPC Brasil - Estados Unidos em 2020), embora a taxa de câmbio possa ser bem mais alta – ou mais baixa em economias dirigidas. Parece um mecanismo ideal, porém, o problema dessa taxa é sua inércia uma vez que não responde imediatamente às diversas mudanças possíveis no comércio internacional, dificultando, ou até impedindo tomadas de decisão. No entanto, essa taxa é extremamente útil para a comparação de questões no âmbito social, e, com certeza, seria muito útil na equiparação de valores extrínsecos ou intangíveis, além de melhor atender a casos que devem considerar a capacidade de pagamento entre sociedades distintas. (Para efeitos práticos em turismo existe a variante da Paridade Big Mac.)

Mesmo largamente desconhecido, é deveras importante saber que esse instrumento existe e pode ser extremamente útil em determinadas negociações.  

  

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Auxílio Brasil

 

Auxílio Brasil

(“Auxílio Brasil / A Brazilian Social Support Program” - This text was written in a way to ease comprehensive electronic translations)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

O programa governamental de assistência denominado ‘Auxilio Brasil’ possui dois aspectos centrais: a necessidade e a viabilidade.

Quanto à necessidade, embora evidente, são precisas algumas reflexões. As diversas variantes do sistema da economia de mercado ao redor do mundo têm produzido inegáveis progressos e prosperidades, ainda que ao custo de um progressivo uso, e desperdício, dos recursos naturais, todos limitados, do nosso planeta. Ao mesmo tempo, tais sistema econômicos não têm conseguido evitar flagrantes desigualdades socioeconômicas internas nas sociedades ou nos países, não necessariamente por um aumento da pobreza, mas também pelo rápido e expressivo enriquecimento na ponta da pirâmide.

As causas são várias, da falta de educação e preparo para um mundo de contínuo crescimento tecnológico a crassas falhas na redistribuição da renda. Consciência a respeito desse problema sério existe há bastante tempo, faltam as respostas concretas, ou, onde elas existem no papel, sua concretização. Mas cabe lembrar que existem iniciativas governamentais sendo desenvolvidas nos últimos nas últimas décadas em busca de enfrentamentos dessa realidade. Praticamente todas giram em torno de uma concepção chamada de Renda Universal Básica e que consiste numa redistribuição de renda proporcionando uma receita mínima suficiente para o sustento da pessoa, e que é garantida a todos os cidadãos. Já existem programas piloto desse modelo em andamento e avaliação em vários países.

O programa “Auxílio Brasil”, desde suas versões iniciais como “Bolsa Escola” e “Bolsa Família” está em sintonia, embora em estágio limitado, com mencionado modelo. E esse estágio limitado tem, nome: disponibilidade ou falta de recursos. Nesse ponto, o Brasil não se encontra em situação confortável, embora sabendo que mesmo países ricos ainda procuram fórmulas para financiar tais programas, apesar de ter perfeita consciência de que esses recursos em circulação dinamizam a economia macro. Além disso, no caso brasileiro é preciso lembrar que uma população igual à da Holanda retornaria imediatamente cerca de 30% do benefício ao Governo através de impostos indiretos.

Isso levanta algumas perguntas. A primeira foca, sem dúvida, a questão tributária, que evidentemente possui vícios e distorções e que exige coragem do governo em suas adequações. A segunda é mais ampla e menos abordada. Se as nações produtoras de petróleo geram com essa commodity riquezas imensas, porque o Brasil, 1º lugar em exportação mundial de soja e carne de aves, e 2º lugar, em minério de ferro e carne bovina, além de outros produtos em destaque mundial, não consegue construir as bases necessárias, especialmente na educação, para uma estrutura de garantias sócias sólidas.

O começo já foi, e continua sendo feito. Nos encontramos nos 10% dos países mais ricos do mundo. Falta o que? Vontade e sacrifícios políticos? Um governo forte? Consenso do poder econômico? Seja o que for, é bom ter em mente que a sociedade mais próspera não é a que tem mais cidadãos ricos, mas aquela que tem menos pobres.

 

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Democracia de Competências

 

Democracia de Competências

(Partidos Políticos Têm Futuro?)

(“Democracy of Competences– Is There a Future for Political Partiers” – This text is written in a way to ease electronic translation)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Democracia e partidos políticos são tidos como fatores inseparáveis. Sempre foram. Todavia, os tempos também mudam no Estado, nas instituições, na política – e nas utopias. Em tempos passados, o objetivo central da política, e dos políticos, era garantir a soberania e a coesão interna de uma nação. Hoje, as demandas concentram-se em assegurar e promover a qualidade de vida e a prosperidade do cidadão. Ao mesmo tempo observam-se ao longo das últimas eleições nos regimes democráticos importantes mudanças no comportamento dos eleitores na escolha de seus representantes em cargos políticos.

Ao mesmo tempo, ideários políticos perderam gradativamente sua importância, principalmente em decorrência do comunismo ter fracassado em alcançar uma livre adesão em escala maior a seus ideais e postulados, e o capitalismo ter percebido a importância de aspectos sociais em suas decisões. Atualmente, as agremiações políticas aproximam-se em suas posturas cada vez mais no centro do espectro entre extrema direita e extrema esquerda. Por outro lado, a universalização da comunicação em tempo real tem influenciado fortemente os processos e de campanhas eleitorais – para o bem e para o mal.

O que pouco mudou é o perfil do político com suas qualidades e seus defeitos. Isso manifesta-se através da indiferença com respeito às mudanças socioeconômicas e observadas em várias áreas do conhecimento, a frequente priorização de interesses políticos sobre soluções com real atendimento das necessidades e aspirações da sociedade, ou a redução a meros e nostálgicos propagandistas ideológicos. Ou, então, o simples desconhecimento de causa nas deliberações, quando os temas da atualidade e de competência governamental requerem em seus enfrentamentos e suas soluções muito mais respostas técnicas do que de essência político-partidária. Obviamente, também grande parte do eleitorado, mormente a dos mais idosos, possui perfil conservador.                  

A pergunta que se impõe diante disso é clara: existem alternativas? Sim, por exemplo, a chamada democracia direta como ela existe na Suíça, que resolve seus assuntos importantes através de referendos ou plebiscitos. Mas é preciso lembrar aos eventuais imitadores que sistemas são muito resistentes a mudanças. No entanto, está surgindo um fenômeno espontâneo nesse panorama. É a formação voluntária de blocos suprapartidários em torno de interesses, preocupações e capacitações comuns. São no caso brasileiro as bancadas específicas do agronegócio ou ruralista, dos direitos humanos, da saúde, da educação, da segurança pública, feminina, evangélica, sindical, entre outros.

Isso permite e sugere algumas projeções. Ao passo que tais bancadas se consolidam, aspectos político-partidários perdem de importância e passam para o segundo plano. Além de permitir respostas fundamentadas domínio de causa, isso pode mudar as estratégias eleitorais, e muito. Uma realocação nas argumentações do caráter político-partidário para considerações e soluções primordialmente técnicas certamente obrigará os partidos tradicionais a revisar suas táticas, seus procedimentos e seu potencial humano. Muito possivelmente, parlamentares, ou candidatos menos políticos, mas com conhecimentos específicos encontrarão boa receptividade numa população totalmente desiludida e decepcionada com o perfil do político atual.

A partir da percepção de sua importância e seu peso, as bancadas tenderão a deixar a informalidade e buscar estruturação institucional, inclusive com o estabelecimento de articulações inter-bancadas em assuntos comuns; parece apenas ser uma questão de tempo. Um fenômeno paralelo deverá ser a gradual desconstrução da fidelidade partidária, não por último pelo risco de auto-atrofia dos partidos.

Por fim, o que se esboça claramente é a passagem do parlamento de partidos políticos para out6ro das competências específicas – uma evolução aparentemente irrefreável num mundo essencialmente objetivo e cunhado pelo contínuo avanço tecnológico. Está se esboçando a era do homem público do conhecimento em lugar daquele da inteligência política. Cabe ao eleitor perceber a mudança – e assegurar sua consolidação.