O Potencial dos Desiguais
(¨The Potential of the Unequal” - This text is written in a way to ease
comprehensive electronic translation)
Klaus H. G. Rehfeldt
A desigualdade faz parte da natureza da humanidade, indivíduos
diferentes fazem coisas diferentes ou as mesmas coisas de maneira diferente,
evidentemente com resultados diferentes. É o livre arbítrio e seus efeitos. Na
origem dessas diferenças estão potenciais físicos e mentais distintos; os
humanos não são robôs com todas as suas capacidades pré-selecionadas a
uniformes. Isso faz de cada pessoa um complexo de condições, capacidades e
limitações próprias e únicas. E isso é imutável.
Somos, então, todos definitiva e imutavelmente
desiguais, em causa e efeito. Assim, não cabe a pergunta, “quem é desigual?” Nem a pergunta, “quem é mais, e quem é menos
desigual?” Conclusão: um mundo de iguais é pura utopia e, contrário ao
entendimento geral, os mais desiguais situam-se na fina ponta da pirâmide de
renda, como unicórnios e outros super-ricos. Como qualquer sociedade que aceita
o princípio da propriedade individual gera desigualdades, o desafio daí
decorrente passa a ser: “como harmonizar as desigualdades, especialmente com
relação aos desiguais de baixa ou nenhuma renda?” Nem comunismo, como ideal
filosófico (mesmo anárquico), nem qualquer outra concepção de uniformização
socioeconômica.
A desigualdade não inabilita, nem desqualifica. Portanto,
a essência para uma harmonização, ou compatibilização consiste numa igualdade
de chances desde o princípio da vida, mesmo que essas chances iguais sejam
aproveitadas diferentemente pelos beneficiários. É uma responsabilidade
sociedade, partindo, ou indiretamente de ações do Estado, ou direta e espontaneamente
de seus membros. Porque ‘diretamente de seus membros’?
Vejamos uma sociedade fechada de, digamos, 100 mil
pessoas. Dentro das nossas atuais realidades de economia de mercado, podemos presumir
uma pirâmide populacional em que ao redor de cinco mil pessoas detém por volta
de 50% da riqueza dessa sociedade, outras cerca de 60 mil pessoas são donos de
45% dessa riqueza, e para os restantes aproximadamente 35 mil pessoas ficam com
os restantes 5%. Na ausência de qualquer milagre econômico, essa sociedade deverá
crescer vegetativamente em função de aprimoramentos tecnológicos e o
consequente aumento da produtividade (apenas da população economicamente ativa),
mas sempre mantendo a proporcionalidade dessa estrutura – e sempre carregando o
ônus da improdutividade de cerca de um terço da sua população com baixa ou
nenhuma renda, mas com o custo das necessidades básicas (ensino, saúde,
segurança etc.).
Supondo um PIB (Produto Interno Bruto) de I$ 200
milhões (I$ sendo uma moeda imaginária), teríamos um PIB per capita de I$ 2.000,00,
o que, visto corretamente, não corresponde à realidade, pois, grosso modo, 35%
da população praticamente não produzem. Por conseguinte, o PIB per capita dos 65%
da população de fato economicamente ativa, seria de cerca de I$ 3,000,00.
A sempre almejada integração econômica e social dos
cerca de um terço praticamente improdutivo da população, obviamente com os
devidos investimentos realizados pela sociedade (iniciativa privada ou
governo), aumentaria teoricamente e numa perspectiva máxima o PIB de toda a
sociedade em I$ 90 milhões (30 mil vezes I$ 3.000,00) à economia. Com isso, o
PIB per capita passaria de I$ 2.000,00 para efetivos I$ 3.000,00 – um aumento
de 50%, e o PIB total da sociedade hipoyética passaria para I$ 300 milhões.
Não se pretende abordar aqui possíveis dimensões e resultados
econômicos de tais investimentos. Ao mesmo tempo lembramos que a situação acima
seria a melhor resposta teórica, na prática irrealizável. Outro fator a
considerar é o prazo em que o processo de inserção seria possível. Todavia é
incontestável que uma inserção dessa natureza não traria benefícios apenas à
parte diretamente objetivada da população, mas, e em grau significativo, a toda
a sociedade, a todas as camadas da pirâmide econômico-demográfica.
Dessa feita, apesar das desigualdades
características da nossa espécie, basta a sociedade se empenhar para que todos,
de alguma maneira, participem produtivamente em benefício próprio e com
vantagem para todos. Nem todos os seus membros precisam ser gênios
empreendedores ou fenômenos digitais, mas muitas capacidades estão certamente hibernando
num mundo aparentemente desinteressante para a parte economicamente integrada
da sociedade, bastam as chances