Do Terror ao
Bicho-Papão
(“From Terror to Boogeyman” – This text has been written in such a way as to
facilitate translations by electronic means)
Klaus H. G. Rehfeldt
Ideias socialistas são
bastante antigas e podem ser observadas desde a Revolução Francesa de 1789. Naquele
momento, a Revolução Industrial já está tomando vulto em alguns países com
todos os conhecidos abusos sofridos pelos trabalhadores sujeitos às regras (ou
a falta delas) do capitalismo emergente. É o período do socialismo primitivo ou
socialismo utópico quando se busca um Estado ideal e justo, mas também já
idealizando as primeiras formas de propriedade comum.
A partir
do Manifesto Comunista de 1848 e o livros ‘O Capital’, de K. Marx (por sinal
escrito na Inglaterra, naquele momento o centro da Revolução Industrial e seus abusos), ficou
consolidado e delineado o ideário comunista, passando a servir de referência a
um socialismo mais radical. Por mais que essa ideologia fosse banida pelos
governos da época, tanto autocráticos, quanto democráticos, ela encontrou
receptividade, e também em virtude desse banimento, ganhou resiliência.
Veiou a Revolução Russa de 1917, que não foi uma revolução comunista, mas anti-tzarista, porém, o vácuo de poder que ela causou foi sangrentamente ocupado pelas forças comunistas existentes no país. E a Rússia, em seguida União Soviética (URSS), tornou-se o primeiro país identificado com o comunismo. Vitoriosa na Segunda Guerra Mundial, a URSS anexou praticamente todos os países em sua periferia territorial. A mesma ideologia passou a ser adotada pela China, e posteriormente por Cuba, Congo, Correia do Norte, parte do Vietnam, entre outros, porém nunca de forma democrática, mas como resultado de golpes de estado ou revoluções, sempre apoiados, inclusive militarmente, pela União Soviética ou a China.
O mundo
dividiu-se em dois sistemas político-econômico, o capitalista, em geral
democrático, e o comunista, sempre autocrático. O único equilíbrio entre os
dois blocos foi o bélico, e esse custou muito caro à URSS com sua economia
sempre problemática. Os planos quinquenais da economia soviética fracassaram um
após o outro a ponto de repetidas vezes a URSS teve de importar trigo e outros
commodities dos Estado Unidos e outros países capitalistas. Sendo um sistema
político imposto que não admitia contestação, sempre foi um regime bastante
brutal, e nunca fora amplamente sustentado pelo povo. Havia, naturalmente, uma
significativa parcela da população simpatizante da ideologia marxista, uma vez
que para muitos habitantes em países comunistas houve uma efetiva melhora em
seu padrão de vida (mesmo longe daquele dos países capitalistas), mas apenas o
rigor - muitas vezes terror – do sistema garantia sua própria subsistência. A
mão de ferro era onipresente. Via de regra, especialmente os primeiros momentos
da instauração de governos comunistas eram extremamente violentos, usando o
terror como meio de submissão.
Essa
realidade ficou inequivocamente evidente quando, em 1989 caiu pacificamente o
Muro de Berlin e em 1991 se dissolveu repentina e quase silenciosamente a União
Soviética. Nesses momentos ficou claro que o comunismo não conseguiu se impor
como forma de governo exitoso – estava falido. O regime comunista,
auto-definodo como progressista (em oposição aos conversadores) deixou poucos
progressos, salvo em tecnologias bélicas.
Como as ex-repúblicas soviéticas não tiveram qualquer experiência em regimes democráticos tornarem-se presa fácil de poderes autocráticos. No entanto, nenhum desses países voltou a ser comunista, até em alguns casos temos hoje governos conservadores Da mesma forma, nenhum país adotou a ideologia marxista como regime político nas últimas seis décadas.
Em nenhum país onde governara, o regime comunista foi a livre escolha do povo (eleições com resultados acima de 95% a favor de candidatos comunistas obviamente não eram limpas), e os poucos países que ainda se dizem comunistas são ditaduras que colocaram o comunismo em suas bandeiras, mas ao mesmo tempo praticam economias de mercado, ou, como Cuba, que vende seu 'comunismo' como atração turística; a China inventou a esdrúxula definição de ‘um país, dois sistemas’.
Em
síntese, o ideário comunista foi uma resposta utópica a uma realidade de um
emergente capitalismo muitas vezes selvagem da incipiente Revolução Industrial,
em nada comparável com o capitalismo moderno, cada vez mais em harmonia com
regimes políticos socialdemocratas. O colapso sem retorno dessa utopia mostra
claramente que o comunismo não cabe nem em governos, nem na cabeça dos cidadãos
comuns da atualidade.
Fazit: O comunismo implodiu definitivamente há uma geração atrás, e desde então ninguém, por mais aloprado o saudosista fosse, tentou reerguê-lo.
Resta,
porém, um papel ao comunismo: servir de bicho-papão como importante anti-herói em
campanhas políticas. Sempre haverá pessoas e agrupamentos simpatizantes dos ideais
marxistas, da mesma forma como outros pensamentos inusitados e sua presença faz
parte da diversidade do pensamento humano. Cada povo tem seus bichos-papão e seus respectivos
interessados que os mantêm vivos. Por sorte, bicho-papão é coisa de cabeça e a razão
costuma vencer.