terça-feira, 16 de abril de 2024

Importando Gente

 

Importando Gente

(“Importing People” – This text has been written in such a way as to facilitate translations by electronic means)

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Não está se discutindo aqui as imigrações clandestinas, como por exemplo, de sul-americanos para a América do Norte e de africanos para diversos países europeus. Nesses casos trata-se de contingentes provenientes de regiões mais pobres ou politicamente instáveis do planeta em busca de segurança ou um padrão de vida melhor. São, em geral, pessoas por um lado movidos por muita iniciativa e disposição de sacrifícios, por outro, via de regra carecem de preparo profissional que lhes permita movimentar-se no mercado de trabalho dessas sociedades técnica e economicamente desenvolvidas. Aqui, o enfoque está na ‘importação’ legal.

 

Nesse prisma da migração legal, a Itália começou recentemente a emitir vistos de um ano de permanência, renováveis, a cidadão de fora da União Europeia, que tenham vínculo empregatício em seu país de origem em regime de trabalho a distância (home office), além de formação superior e uma determinada renda mínima. Em termos práticos, a pessoa ganha em seu país de origem (em moeda local) e gasta na Itália (em Euro).

 

Anúncios dessa natureza em variados formatos são cada vez mais frequentes. Portugal, Espanha e Itália vinculam vistos de permanência à compra simbólica de imóveis (€ 1,00) abandonados com a obrigação de restaurar e habitá-los-los. Já a Alemanha procura profissionais em várias áreas – tecnologia, médica e educação, entre outras) – mesmo sem o domínio da língua alemã, basta o inglês. Situações semelhantes são encontrada em países como Japão, Nova Zelândia, Romênia, Austrália e outros mais. Na grande maioria são países de padrões tecnológicos e econômicos elevados e, obviamente, não interessam pessoas sem qualificação e boa experiência profissional.

 

Já nos anos 1950, os países europeus, especialmente a Alemanha, em fase de reindustrialização recompuseram a mão de obra que faltava em decorrência da Segunda Guerra Mundial, chamando trabalhadores – mesmo não, ou pouco qualificados – do exterior, especialmente do sul da Europa e da Turquia.

 

Hoje, a razão para tais medidas governamentais é outra: o declínio da população dessas nações. Os mencionados países e muitos outros já entraram numa mudança demográfica, registrando uma inversão naquele crescimento populacional havido ao longo de séculos, até milênios, para um encolhimento. Até países como a China apresentam hoje crescimentos negativos. Trata-se de uma tendência global com cerca de um terço das nações na iminência, ou já na vivência dessa nova realidade. No Brasil, essa mudança deverá ocorrer num prazo de 10 a 12 anos.

 

Diante dessa realidade demográfica, os países mais atingidos com a redução de sua população tentam não somente recompor numericamente seus habitantes, mas, fazê-lo seletivamente com imigrantes portadores de capitais ou de competências profissionais em áreas deficitárias.

 

Se por um lado o melhor produto a ser importado por uma nação é o conhecimento e, melhor ainda, o mesmo podendo ser aplicado por métodos e parâmetros alternativos, por outro, para o país ‘exportador’ isso representa uma evasão – eventualmente uma sangria – desse ‘bem imaterial’ – e de seus contendores.

 

No caso do Brasil, 4,6 milhões (2,2%) de cidadãos brasileiros vivem atualmente no exterior, a maioria em países como Estados Unidos, Portugal, Reino Unido e Japão (curiosidade: um desses vive na Correa do Norte). Sabidamente, nem todos são cientistas de ponta, mas praticamente todos são profissionais qualificados (sem essa condição não entrariam legalmente em tais países). A paleta desses emigrantes vai do técnico em motosserras ao chefe de equipe médica que realiza o primeiro transplante bem-sucedido de coração de porco em pessoa humana.

 

É a situação não apenas do Brasil, mas de muitos países com padrão de remuneração baixa (mesmo de competências sociais) ou moeda fraca. Eles não conseguem segurar suas cabeças iluminadas, mas depois importam os produtos que essas criam no exterior.     

 

Inteligência e a produção de conhecimento existem em qualquer lugar do mundo. O difícil é as sociedades que mais precisam, segurar seu patrimônio intelectual. O mais grave na exportação desse ‘produto’ (e ele se exporta nos próprios pés e por atração) é que, diferentemente da soja e do açúcar, a nova safra leva pelo menos 20 anos, em geral muito mais, para aparecer.

 

   

 

 

Um comentário:

  1. Muito interessante este post.
    Observou que além de cabeças pensantes e mão de obra qualificada, o Brasil também é prolífico em atletas de ponta, principalmente jogadores de futebol.

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